segunda-feira, 29 de junho de 2015

REPOSIÇÃO 2ºs ANOS - I. Os circuitos da produção (parte 1): O espaço industrial brasileiro

Caros alunos,

Iniciamos na semana passada a reposição das aulas não ministradas durante a greve de professores. Conforme combinado, todos os conteúdos serão repostos e avaliados. A participação de vocês é muito importante, e estou à disposição de vocês para esclarecer eventuais dúvidas dos conteúdos e atividades avaliativas. Bons estudos!

I. Os circuitos da produção (parte 1): O espaço industrial brasileiro 
(6 aulas)

Nesse tema, enfatizaremos o processo de industrialização brasileiro, que permite compreender a consolidação de um pólo industrial no Sudeste e de periferias industriais nas demais regiões do país. O objetivo é elucidar conceitos e conteúdos fundamentais para o entendimento do espaço industrial brasileiro, aliado ao trabalho conceitual, à perspectiva histórica e à abordagem sobre a atual distribuição espacial da atividade industrial no território nacional e, em particular, no Estado de São Paulo.

Para melhor entender o desenvolvimento industrial no Brasil e suas fases, adotamos a noção de industrialização retardatária ou tardia.
A expressão industrialização retardatária ou tardia designa o fato de que a industrialização brasileira somente foi iniciada no fim do século XIX, no momento em que o capitalismo passava da fase competitiva para a monopolista. As máquinas e a tecnologia utilizadas não foram produzidas no Brasil, mas importadas dos países que já as desenvolviam havia mais de um século, provindas principalmente da Inglaterra (onde ocorreu a Revolução Industrial). Isso gerou consequências ao longo das demais fases de industrialização do Brasil, como por exemplo, a difícil inserção do Brasil na Terceira Revolução Industrial ou Tecnológica, desde as últimas décadas e ainda atualmente.


A Primeira Revolução Industrial no Brasil somente foi completada em 1930, tendo ocorrido com mais de cem anos de atraso em relação aos centros mundiais do capitalismo. Entre outros fatores que contribuíram para que o Brasil se mantivesse em um quadro de fraco desempenho industrial, até o início do século XIX, foram as relações escravistas de trabalho, o pequeno mercado interno, o Estado alheio à industrialização, as forças produtivas pouco desenvolvidas, o passado colonial do Brasil, conforme o tema estudado anteriormente “Gênese geoeconômica do território brasileiro”. Entre 1880 e 1930, foram implantados os principais setores da indústria de bens de consumo não-duráveis ou indústria leve. Em função de se manter numa situação de dependência em relação aos países mais industrializados, o Brasil não dispunha de indústrias de bens de capital ou de produção, algo essencial para o desenvolvimento econômico de uma nação ou país.
 Antes de prosseguir, vamos esclarecer os tipos de indústrias:

  • Indústria de bens de consumo ou leve:

a) Indústria de bens de consumo não-duráveis: roupas, cosméticos, alimentos;
b) Indústria de bens de consumo duráveis: automóveis, eletrodomésticos e móveis.
  • Indústria de bens intermediários ou de bens de capital: desenvolvimento de máquinas e equipamentos para outras indústrias (autopeças, mecânica naval).
  • Indústria de bens de produção, de base ou pesada: transforma matéria-prima bruta em produtos a serem utilizados por outras indústrias (extração de minérios, refinaria de combustíveis fósseis, siderúrgica que processa minérios, química).

A inserção do Brasil na Segunda Revolução Industrial também se deu com cerca de cem anos de atraso em relação aos centros mundiais do capitalismo, podendo ser dividida em dois períodos:

  • de 1930 a 1955, que corresponde à política nacional desenvolvimentista do governo Getúlio Vargas, responsável pelo início da implantação da indústria de base no Brasil e;
  • de 1956 a 1980, que, inicialmente alicerçado no plano de metas que propunha “crescer 50 anos em 5”, marco da política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek de Oliveira, corresponde ao período de incremento e consolidação da indústria de base, com fortes investimentos estatais nos setores de energia e transportes, com vistas a fortalecer as condições estruturais para o ingresso do capital internacional no Brasil.

No primeiro período (1930-1955), destacamos a política nacionalista da Era Vargas (1930-1945) e de seu segundo governo (1952-1955), que se caracterizou pelo desenvolvimento autônomo com base industrial. Um exemplo foi a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), cujo decreto-lei, que determinou sua criação, foi assinado em 30 de janeiro de 1941. A CSN foi um marco importante para a industrialização do Brasil, um impulso, em virtude da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pois o aço é matéria-prima fundamental para diversos setores industriais. Resultado de um projeto autônomo de desenvolvimento industrial na década de 1940, a CSN foi privatizada em 1993, deixando de ser uma empresa estatal (do Estado).

O segundo período (1956-1980) pode ser subdividido em três:
  • de 1956 a 1961, que corresponde ao mandato de Juscelino Kubitschek, no qual ocorreu o incremento da indústria de bens de consumo duráveis (principalmente automóveis e eletrodomésticos) e de setores básicos (energia elétrica e siderurgia). As diretrizes gerais quanto à industrialização dos governos Vargas e Kubitschek basearam-se no processo de substituição de importações. Contudo, no segundo caso (Era Kubitschek), foi adotado um modelo de desenvolvimento associado ao capital estrangeiro. A política industrial do período JK ratificou (confirmou) a concentração industrial brasileira no Sudeste. O modelo industrial característico deste período atrelava-se diretamente à necessidade de manter a produção de bens duráveis nas proximidades dos pólos geradores de matéria-prima, ou seja, da produção siderúrgica e da disponibilidade de recursos energéticos. Além disso, nesta região também se concentrava a maior parte do mercado consumidor. Esta industrialização foi parte do Plano de Metas, com o lema: “crescer 50 anos em 5”.
  • de 1962 a 1964, corresponde a um período de instabilidade e tensão política (Ditadura). Por este motivo, foi acompanhado pela estagnação e declínio da economia e da indústria no Brasil;
  • de 1964 até meados de 1980, implantou-se a modernização conservadora (projetos de crescimento econômico, principalmente durante os governos militares, sem a inclusão de avanços na área social), aconteceu o “milagre econômico brasileiro” (para designar o fato de que, no contexto dos governos militares e do projeto “Brasil-Potência”, entre 1967 e 1974, o País cresceu mais de 10% ao ano em média à custa de um endividamento crescente no exterior), e a “década perdida” (1980), na qual o país esteve submetido a fortes constrangimentos econômicos, financeiros e, sobretudo, sociais.

Referente à distribuição espacial da atividade industrial no Brasil, a concentração industrial aconteceu na região Sudeste, particularmente no Estado de São Paulo, desde meados do século XIX até a década de 1970, como aparece no mapa “Brasil: distribuição espacial da indústria, 2002”, abaixo:

Brasil: distribuição espacial da indústria, 2002.
O desenvolvimento urbano intenso, concentrado principalmente na região que forma hoje a Grande São Paulo, foi resultado do processo de industrialização que ocorreu na região, resultado de uma economia de escala capitalista, típica do período fordista: a concentração diminuía os custos de produção, pois a proximidade física reduzia os gastos com o transporte de matéria e mão de obra, além de maximizar o uso da infraestrutura instalada. O fordismo organizava a linha de montagem de cada fábrica para produzir mais, controlando melhor as fontes de matérias-primas e de energia, os transportes, a formação da mão de obra.

Há diferença entre descentralização e desconcentração industrial: a primeira pode ser entendida como a mudança física (parcial ou total) de uma unidade industrial ou da produção industrial de uma área territorial para outra, como, por exemplo, do Estado de São Paulo para outros Estados brasileiros ou da Região Metropolitana de São Paulo para o interior paulista; já a expressão desconcentração industrial costuma ser empregada para designar alterações na distribuição espacial absoluta ou relativa de variáveis como número de estabelecimentos, pessoal ocupado, valor da produção e valor da transformação industrial. Assim, desde a década de 1910 verificou-se uma alteração no processo de desenvolvimento do Estado de São Paulo, com a diminuição da concentração industrial e populacional, que vinha ocorrendo desde o começo do século na Região Metropolitana de São Paulo. Para fundamentar essa explicação, tal processo resultou de três fatores:

a) o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND, 1975-1979), que instituiu uma política econômica bastante clara de descentralização industrial de São Paulo para o resto do País, enfatizando vantagens comparativas e especializações regionais. Como exemplos, podemos citar a exploração de minérios em Carajás (PA), Trombetas (PA), Caraíba (BA), Patos (MG), as siderúrgicas de ltaqui (MA), Tubarão (ES) e Açominas (MG), as petroquímicas de Camaçari (BA) e Paulínea (SP), a fábrica de automóveis da Fiat em Betim (MG), os incentivos à CSN e Vale do Rio Doce (RJ);

b) a deseconomia de escala, isto é, a perda das vantagens comparativas da produção em função dos altos custos produtivos, resultado de uma organização sindical forte, salários elevados, valores de terrenos e impostos elevados. Assim, a guerra fiscal, ou mesmo a isenção de impostos, estimula a deseconomia, ou seja, várias cidades oferecem vantagens para a indústria — menor imposto, grandes terrenos, infraestrutura, mão de obra barata, por exemplo — e a que oferecer melhores benefícios, acaba atraindo a indústria. E a cidade acaba ganhando chances de alavancar seu desenvolvimento;

c) a expansão da infraestrutura no Estado facilitou a dispersão das atividades produtivas para regiões próximas à metrópole do Estado de São Paulo.



Atividade Avaliativa

Data de entrega:
2A- 10/08

2B-10/08
2C-13/08
2D-10/08
2E-10/08
2F-12/08
2G-10/08
2H-13/08
2I-12/08
2J-12/08

O espaço industrial brasileiro

Atividade avaliativa referente ao primeiro conteúdo do 2º bimestre     

Nome: ..................................................................................................................................
Data: ........./........./2015  TURMA: 2 º ano_____

1. Relacione a crise na Bolsa de Nova Iorque de 1929 com o desenvolvimento industrial brasileiro.
2. Quais acontecimentos contribuíram para o desenvolvimento industrial brasileiro no governo de Getúlio Vargas?
3. Quais acontecimentos contribuíram para a industrialização brasileira no governo de Juscelino Kubitschek ?
4. Comentando o Plano de Metas, Luiz Orenstein e Antonio Carlos Sochaczewski, em seu artigo “Democracia com desenvolvimento: 1956-1961” (In: ABREU, Marcelo Paiva de (org.)). A Ordem do progresso: cem anos de política econômica republicana, 1889-1989.), afirmam “O Governo Kubitschek caracterizou-se pelo integral comprometimento do setor público com uma explícita política de desenvolvimento. Os diagnósticos e projeções da economia brasileira, empreendidas de forma sistemática desde o final da Segunda Guerra Mundial, desembocaram na formulação do Plano de Metas que constituiu o mais completo e coerente conjunto de investimentos até então planejados na economia brasileira.”
a. Mencione três resultados obtidos em decorrência da implementação do Plano e explique seu impacto subsequente na estrutura da economia brasileira. 
b. Analise o desempenho da economia brasileira nesse período no tocante ao crescimento e à evolução da inflação. 
5. Nos países de industrialização tardia, tais como Brasil e México, a indústria se desenvolveu primeiramente pela substituição de importação de bens de consumo corrente, como vestuário e calçados, necessitando, para isso, importar as máquinas utilizadas em seus processos produtivos. Nesses casos, a população se urbanizou em poucas décadas, as atividades urbanas tornaram-se as maiores empregadoras de mão de obra e a agricultura deixou de ser o setor mais dinâmico da economia. Todavia, o setor agrícola continuou a ser de importância econômica vital durante a industrialização desses países, pois precisou modernizar-se para criar condições que viabilizassem a própria industrialização e urbanização. Com base nisso e nos conhecimentos sobre os processos de industrialização tardia, comente, num texto de 8 a 10 linhas, pelo menos três condições necessárias à industrialização que só podem ser criadas a partir da modernização da agricultura.
6. Indique quais fatores contribuíram para a instalação das primeiras indústrias na região Sudeste no início do século XX.
7. No começo da década de 1960 o Brasil passou por um conturbado período político que culminou com o golpe militar de 1964. No governo militar, o período entre 1967 e 1973 ficou conhecido como "milagre econômico brasileiro", quando atingimos a oitava posição mundial em PIB e o primeiro lugar entre as nações subdesenvolvidas ou periféricas. Comente sobre esse período, tendo como foco a indústria brasileira. 
8. Os anos 1990 foram marcados pela globalização econômica mundial, pela política neoliberal e pelas crises econômicas em países emergentes, como o Brasil. Quais foram as consequências disso para as indústrias brasileiras ? 
9. (UERJ)


  A fabricação de veículos automotores no Brasil, especialmente a de automóveis, concentrou-se basicamente no Estado de São Paulo, até a década de 1980. A partir da década de 1990, houve uma redistribuição espacial das montadoras de automóveis no país.
Considerando as informações acima, aponte duas razões que favoreceram essa redistribuição das montadoras no território brasileiro.
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2 comentários:

  1. Todos os países tem ou tinha a mesma força na ordem mundial?

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  2. Todos os países tem ou tinha a mesma força na ordem mundial?

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